31 julho 2006

Ódios ao volante


Qualquer condutor que se preze tem uns quantos ódios de estimação quando vai a conduzir. São pequenos nadas que nem reparamos noutras circunstâncias mas que ao volante ganham outra qualquer dimensão. Ao volante, porque não podemos fazer mais nada, temos que reparar numa série de pormenores.

O carro tem uma dimensão bastante intima, e não estou a falar dessas coisas que estão a pensar, mas já todos reparámos que os homens dentro dele têm todos a tentação irresistivel de tirar "macacos do sótão", ou "limpar o salão" o que acho metáforas deliciosas. Estes hábitos podem ser nojentos mas não me incomodam desde que não deitem os "restos" para fora do carros com um valente piparote.

Já outros hábitos têm o condão de me tirar do sério, com vontade de regredir muitos anos na história humana e desancar os portadores de tais "manias". Não vou aqui entrar em conceitos estéticos sempre discutíveis quanto á decoração das viaturas, as Penélopes e "vais tu" colados na traseira não me inquietam mais. Falo daqueles hábitos que incomodam todos os outros concidadãos.

À cabeça da lista vem o "pastel" que rola vagarosamente diante de um sinal amarelo e decide dar somente a acelaradela suficiente para, passando com o vermelho, nos deixar pendurados no sinal. Temos de seguida o "nervoso" que em qualquer circunstância apita desalmadamente como se tal salvasse o pai da forca, mesmo que à sua frente esteja um camião TIR a trocar um pneu furado. O "deixa estar" que estaciona em segunda fila em qualquer rua ou estrada tornando o transito da mesma um caos mesmo que tenha um lugar dez metros à frente. O "limpinho" que em pleno sinal vermelho decide esvaziar o cinzeiro abrindo discretamente a porta e deitando a cinza na estrada. Temos a versão "limpinho" espampanante quando em plena estrada decide abrir o vidro e deitar fora todo o lixo, cascas de fruta e lenços de papel, que acumulou durante as últimas duas horas na fila da Ponte em fim de tarde de Domingo.

Gosto particularmente dos "rápidos" de tamanho mini e pretensões maxi que se colam na nossa traseira a pedir passagem, mesmo que estejamos na fila da ponte e o melhor que consigam é andar dez metros, e insistem em fazer sinais de luzes e piscas como se fossem uma ambulancia.
Temos tambem a versão "policia" que são aqueles condutores que em auto-estrada se colam na fila da esquerda a 120Km/H como que a dizer-nos que somos uns prevaricadores ao ir a 130.

Enfim, estes ódios não devem ser os únicos mas gostava de saber se são só meus.

27 julho 2006

Geografia e Cultura Urbana - divagações


Hoje ouvi uma conversa interessante sobre o transporte público versus transporte privado. Curiosamente, ou talvez não, existe uma maioria de pessoas que defende a utilização do transporte público. Defende mas não pratica.

Começo então a divagar enquanto vou escutando os vários argumentos pró e contra. Existe sempre uma desculpa recorrente para esta pràtica, a distância a e falta de alternativas. Temos então um ovo de Colombo, por um lado a percepção das vantagens do transporte público por outro lado a prática do uso do transporte privado. Todos nos lembramos como nos transportávamos hà vinte anos. O bom do metropolitano e a sua linha minuscula e os velhinhos autocarros verdes de dois andares. O metropolitano aumentou a sua extensão, o conforto nos autocarros melhorou substancialmente. O que mudou?

Na minha opinião dois factores. Por um lado o crescimento das cidades que fazem com que hoje em dia povoações antes periféricas sejam actualmente autênticos "bairros" da capital e por outro um boom económico que facilitou a compra de automovel próprio. A especulação imobiliária e a melhoria dos salários bem como o recurso ao crédito, tanto para a aquisição de automóvel como de habitação própria, alteraram a geografia e os hábitos das populações.

Perdeu-se o centro histórico das cidades com uma vida cultural e identidades próprios para uma dispersão descaracterizada de "dormitórios" sem as características e qualidade de vida que uma cidade deve prestar.
Não foi uma migração lenta nem em busca de melhores condições de vida muita embora se ouça frequentemente comentar que se optou por morar em cidades satélites em virtude da "calma" que estas proporcionam. Dizem que os centros das cidades são caóticas e muito populosas. È minha opinião que a desarticulação de políticas de desenvolvimento do interior tornaram as cidades o "el dorado" das esperanças. Houve a troca da sobrevivência pela qualidade. A súbita expansão destas periferias ajudada pela melhoria das vias de comunicação, que torna possível a construção em locais cada vez mais afastados dos centros, tornam as mesmas um aglomerado de prédios sem infra-estruturas que fizeram das cidades um pólo de atracção.

As novas cidades não têm estruturas de índole cultural, pois não foram fruto de um amadurecimento gradual, nem as populações residentes têm essas expectativas. As cidades originais envelhecem, os hábitos culturais perdem-se, as identidades ficam difusas e degrada-se a qualidade de vida em ambas as cidades, as "velhas" e as "novas".

Sempre me foi dito que a geografia foi desenvolvida para fazer a guerra, mas na realidade é de tal maneira abrangente que condiciona o todo o nosso modo de vida.

19 julho 2006

Dias tropicais

Temos estado numa canícula própria dos climas tropicais. Como diria o nosso Eça, tem estado um calor de ananases. Parece que as vontades andam todas mais devagar e as notícias têm um impacto esbatido pelo calor. Embora não estejamos de férias, tudo o que se passa á nossa volta derrete com o calor.

È esta a sensação que tenho quando escuto as notícias. Ouvimos uma coisa vaga, tipo ruído de fundo, vozes a queixarem-se de filhos perdidos no Sul. Pensamos que é no Algarve e depois percebemos que é no Líbano. As bombas rebentam, e só pensamos nas férias, no sol e na injustiça que é trabalhar com tanto calor.

Os engarrafamentos continuam, o futebol acabou, os exames são repetidos inexplicavelmente. O barril de petróleo aumenta a taxa de juro sobe e só temos vontade de ar condicionado.
Porque hoje é sexta, se fosse sábado seria assim


O Dia da Criação

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

Vinicius de Moraes

14 julho 2006

Estranhos Silêncios


Imaginem-se vocês a trabalhar, num dia aparentemente normal. De repente parecem escutar um ruído estranho, parecem ser motores de avião. Pensam que será uma qualquer camioneta ou um avião a voar anormalmente baixo. O barulho aumenta e subitamente é acompanhado por ruídos semelhantes a explosões. Estranho....que será?

Ligam a rádio e ouvem que é a aviação Espanhola. Acabou de bombardear Almada. Soube de fonte segura que se estava lá a esconder um perigoso núcleo da Al Qaeda que tinha raptado dois soldados da Guardia Civil à uma semana.

Então e a independência Nacional e o Direito Internacional pensam vocês? Onde andam os capacetes Azuis, a ONU, o G7 ou a NATO ?

Pois é. Este é o provável cenário no Líbano. São um país independente, soberano e democrático. Beirute já foi uma das cidades mais apetecíveis do Mediterrâneo, semelhante a um Rio de Janeiro na beleza e no estilo de vida, mas para Israel isso são meros detalhes. Se se raptam dois soldados do seu exército isso dá-lhes o direito de invadir qualquer país suspeito.

O tipo de força que usam pode ser desproporcional, o que acho um eufemismo do mais cínico, para dizer que estão a usar todo o seu poderio militar. Na prática o que pretendem é condenar todo um país à asfixia económica até este entregar algum "terrorista". A morte de civis e de crianças são simples danos colaterais. O processo é lento no limite pretende que se entregue todo e qualquer potencial terrorista a uma Israel detentora da Verdade e da Justiça, nem que seja para se salvar de morrer à fome. Já foi aplicado noutras zonas do globo, não é rápido nem indolor. Foi tentado nos Balcãs e viram-se os resultados, 10 anos de guerra ainda por sarar.

Qual a posição da comunidade internacional ou dos EUA? Estranhamente calados. O terrorismo tem este efeito de pânico, quando se fala dele todos os países preferem ficar calados, podem ter telhados de vidro.

13 julho 2006

O Gestor Funeràrio

Estava agora a arrumar alguns papéis que têm o hábito irritante de se ir acumulando em cima da minha secretária quando deparei com um hilariante não fosse o trágico associado.
Tudo na começou com um funeral de um parente meu na semana passada. Estava ainda o funeral a começar quando a minha irmã começa a ficar nervosa, tinha uma reunião importante a meio da manhã e não tinha como justificar a falta.
Pega no telefone e liga para os Recursos Humanos da empresa onde trabalha para saber quais as possíveis justificações e saber se dado o parentesco com o defunto teria algum dia de "nojo". Só o nome jà é horrível. Constatado que não "teria dias de nojo" restaria obter uma justificação em como teria estado presente no dito evento, leia-se funeral.
Embora não tenha necessidade de justificar o meu horário decidi fazer o mesmo por uma questão de ética profissional. No final do funeral dirijo-me a um dos senhores da casa funerária que estava encarregue do dito. Quando me aproximo verifico surpreso que havia uma fila de pessoas a fazerem o mesmo que eu e a minha irmã. Parecia que estávamos num consultório médico a pedir para este passar receitas médicas para as "cruzes" de uma série de reformados.
Peguei no papel e nunca mais me lembrei dele, até que agora mesmo á minha frente, vejo uma declaração assinada por um Gestor Funerário.
Estamos num país moderno, pois com certeza, é preciso é gerir, nada de nomes foleiros, tudo como deve ser.

10 julho 2006

RAN Estruturante ou conjuntural ?


Na sequencia do meu post sobre o poder local levantou-se uma acesa polemica sobre a utilidade e importancia da famosa RAN (Reserva Agricola Nacional).

Parece que afinal existem mais uma vez dois pesos e duas medidas para a aplicação da mesma. Se falamos de 3.ooom2 dentro de uma propriedade privada para o desenvolvimento de um projecto de dimensão local é um documento estruturante e impensável contornar.
Se falamos de 100 hectares em plena Reserva Agrícola Nacional já é um documento meramente regulador, desde que sirva ao Governo na sua campanha promocional, onde foram salvaguardadas as devidas precauções.
Nestas circunstancias lembro-me sempre daquela famosa frase de financeiros. Se tens uma divida bancária de 1.000 contos tens um problema, se a divida são 100.000 contos é o banco que tem um problema. Aqui passa-se o mesmo, a dimensão é que inverte o sentido da questão.
Como português devia ficar eufórico, afinal são mais uns milhares de empregos a criar. No entanto fico com a sensação que nos estamos a vender barato. Trocamos os princípios pelo pãozinho e pela esmola caridosa dos nossos "amigos" espanhóis que fazem o favor de vir aqui investir o seu dinheiro.
Espero que todo este projecto seja efectivamente um investimento de longa duração e não seja mais um aproveitamento conjuntural de financeiros e políticos com deficit de ideias estruturantes.

08 julho 2006

A vida secreta das palavras


















Há filmes assim. Não precisam de palavras para nos revelar a sua mensagem. È a imensa capacidade da imagem aliada a uma realização com o timing certo e uma realidade que suplanta a mais perversa imaginação.
È o retrato de uma guerra que existiu, não nos confins de uma África longínqua nem de um Médio Oriente em eterno conflito. Foi aqui, na Europa, centro da democracia moderna, bem perto do seu berço. Foi há dez anos e parece que nos esquecemos, que nem demos pela sua enorme crueldade onde se relembraram todas as práticas mais atrozes de séculos de natureza humana.
Foi uma guerra entre iguais, onde a única diferença foi uma pequena divergência bíblica que dá origem a duas Religiões. Ou será que foi antes uma guerra entre o poder de máfias institucionais com a rédea solta depois da queda de um ditador ?
Foi uma guerra tão cruel que quem sobreviveu se envergonha de o ter feito, onde a única forma de a suplantar é morrer em vida como forma de preservar a memória dos mortos.
Porque é preciso que cada guerra e genocídio seja relembrado para que não se repitam.

04 julho 2006

O futebol e a classe intelectual

Tenho estado desde 9 de Junho numa calada admiração por todos aqueles intelectuais que "abominam" futebol. Mais que futebol, abominam o senhor Scolari e a sua forma de estar.
Como todo o país que gosta de futebol temos um treinador potencial dentro de nós. Não há maior irresistibilidade que deitar uns palpites sobre a constituição da equipa ou a táctica a utilizar. Esta tentação é ainda maior após o jogo e portanto com toda a razão do nosso lado.
Temos entre os treinadores intelectuais mais destacados o Sr.Miguel Sousa Tavares e o Sr. Manuel Serrão. Ambos têm o seu publico e gostam de ser lidos. Têm opinião e são absolutamente convencidos que as suas opções são as correctas. Nunca têm dúvidas e raramente se enganam e acima de tudo são Portistas. Ser portista na futebolandia nacional é como a relação do Frank Sinatra e da Cosa Nostra, todos sabem quem são mas convém não hostilizar não vá dar-se o caso de termos um acidente, ainda para mais se têm a patine de intelectual.
Temos num outro extremo o Sr. JPP, que clama contra as calamidades do futebol e do pernicioso que este tem, mas deve ver os jogos ás escondidas. Ele esquece-se de dizer que se hoje o futebol tem o impacto que tem é graças á classe politica que ele tão bem aconselha, acompanha e faz parte dela.
O que me incomoda é este duplo raciocinio, se é futebol é mau, se é jogado com as regras de um treinador teimoso mas vencedor e ainda para mais estrangeiro é duplamente mau. Se ganhamos com a equipa que ele forma já não é a equipa de todos nós, porque essa seria feita na imprensa ou em entrevistas de rua. Se ele tem mau feitio mas ganha é casmurro, o Sr. Mourinho faz o mesmo mas é somente determinado.
Gosto imenso de futebol, curiosamente muito mais de jogar do que de ver. O que me incomoda mesmo é que mais de metade das pessoas que falam dele nunca o jogaram e muitas nem sequer fizeram qualquer desporto que não fosse comprar o bilhete para o assistir. Bem sei que não é preciso ser cantor de Opera para poder fazer a respectiva critica, mas convenhamos que tanto alarido também não é normal.
Bem sei que o país não pode ficar paralisado por eventos como este, mas a projecção que a seleção nos pode dar é muito maior e mais barata que uma API mal gerida e com menos de metade de tempo de antena á escala planetária.
Que ganhe a melhor equipa, a mais bem gerida, a mais determinada e se possivel a Nossa.
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