24 maio 2006

Morning posts

A quantidade de pessoas que acordam e têm necessidade e tempo para escrever cada vez me impressiona mais.

Eu acordo e tudo o que penso é como fazer a barba somente com um olho aberto e chegar ao duche sem dar nenhuma topada na banheira. Claro que aí chegando já tenho uma tarefa feita, acordar.

Logo de seguida tenho que acordar dois seres que, se puderem, acordam com a sirene dos bombeiros ao meio dia. Após esta dura tarefa tenho que preparar os pequenos almoços dos piquenos . Esta tarefa é onde consigo pôr as ideias em dia, fazer as contas da casa e descobrir onde me está a faltar o orçamento. São cinco minutos muito profícuos de olho no micro-ondas e mãos na massa Cerelac.

Vestir são dois tempos, por isso contra todos os argumentos, adorava a tropa, sabia sempre o que vestir. Agora temos de parecer elegantes mas descontraídos sem ser pirosos e sem gastar muita massa mas com muito estilo dentro do clássico, sem parecer bota de elástico mas sem parecermos uns gandas malucos . Tudo isto em cinco minutos, com um nó de gravata que não nos envergonhe. Usar perfume se tivermos tempo, o desodorizante não deve contrastar com o mesmo pelo que não aconselho aqueles com cheiros a fruta sob o risco de parecer que viemos da praça.

Após a dura prova anterior ter passado falta vestir os piquenos. Cuidado não deixar as mãos de fada da filhota encherem a gravata com as últimas notícias da Cerelac. Saber de cor o horário das actividades deles ajuda para que não se enfiem as chuteiras de futebol junto com o tutu do ballet ou chegar á piscina sem fato de banho.

Atenção que a rapaziada está a ficar independente muito cedo pelo que convém só ter um par de sapatos por cada estação e esclarecer que os Bolicaos e respectivo dentista não cabem dentro do orçamento quinquenal elaborado pelo Comité Central.

Está tudo pronto para sair, só falta acabar as Pistas da Blu, e lembrar onde ficou o carro na noite anterior, que a garagem Estrela é enorme e não tem lugares reservados.

Ainda estou para saber onde vou encaixar os meus morning posts.

19 maio 2006

Apertar o cinto


Finalmente o Governo decidiu financiar os Portugueses para estes apertarem os cintos. Estou a falar das bandas gástricas, claro!!

Com toda a consideração que tenho pelos gordos deste país e pelos médicos respectivos acho esta ideia do financiamento integral das operações de emagrecimento por via das bandas gástricas um convite ao abuso e descontrolo dos gastos públicos.


Eu não contexto a importância das operações ou a sua pertinácia, o que me parece susceptível de abuso é o facto de o financiamento das mesmas ser baseado no parecer emitido pelo médico do Serviço Nacional de Saúde. Tanto quanto sei, muitos destes médicos exercem simultaneamente no dito e têm as suas clínicas privadas. Ora isto é como ser juiz em causa própria.

O custo da operação é estimado em 8.500€ pelo que o número de pessoas que vai ter a tentação de o fazer via SNS vai ser exponencial. O governo em vez de premiar as pessoas que têm uma dieta equilibrada, menos problemas de saúde e consequentemente menos gastos no SNS oferece assim um presente a todos aqueles que não se preocupam.

Eu não estou contra os gordos, parece-me até uma medida interessante a longo prazo como forma de prevenção dos problemas cardíacos e diabéticos, mas será que é o momento adequado para a medida ser tomada ? Ou será mais uma refinaria de Sines, que afinal era mas já não é ?

Por falar nisso, o ministro da Economia de tanto espalhafato fazer por cada hipotética iniciativa que promove já devia ter os seus créditos nas ruas da amargura.

Enfim, alguém que aperte o cinto com gosto e ainda por cima á borlix.

15 maio 2006

O despertar da consciência

Tenho ultimamente vindo a constatar a enorme quantidade de opiniões que a Igreja tem vindo a enviar aos seus fiéis. São opiniões de natureza Moral onde pretende clarificar ou reforçar ideias antigas postas em causa pela evolução dos tempos. Temos então a questão do uso do preservativo, posto em causa mais uma vez, temos a questão da castidade e da virgindade antes do casamento.

Nada destas “preocupações” da Igreja são novas e as suas ideias também não são. O que me espanta, ou talvez não, é a sua reintrodução como temas de debate público. Assistimos a um desabar de opiniões dos mais variados elementos do clero reforçando a importância destes assuntos sobrepondo os mesmos aos temas mais “terrenos” da economia, desemprego ou mesmo tensões internacionais. Há afirmações, inclusive, do clero dizendo que estas questões são consequência do desmande moral que se assiste a nível mundial.

Na minha opinião esta súbita tomada de posições e a importância que se tem dado ás mesmas é consequência do desnorte que a classe política sente em debelar os problemas efectivos das populações. Perante a falta de resposta do poder político de Direita em países tão importantes como os EUA, a França, a Inglaterra, a Itália, a Igreja vem assumir-se como o bastião moral e vector de união que lhe é típico e necessário ante males maiores. Longe vão os anos 30 em que populações desesperadas e famintas se abrigaram em salvadores da pátria com cunhos marcadamente ditatoriais.

A Igreja nessa altura tomou duas posições perfeitamente claras em Espanha e Itália e deixou em aberto a posição a tomar na Alemanha. As condições de vida e a velocidade e permeabilidade da informação tornam pouco críveis que as mesmas situações se repitam, mas a Igreja, no alto dos seus 2000 anos de história sabe que pode ser a única força Ocidental com a capacidade de tocar a reunir. Antecipando algum “disparate” lança recados em todas as frentes e deixa uma mensagem clara, a Direita tem que se reconstruir e manter a sua unidade.

Numa dimensão nacional os sintomas são mais ou menos os mesmos. Temos uma direita política sem líderes carismáticos e suficientemente fortes para, aproveitando a onda de descontentamento popular previsível, impor uma mudança da opinião pública a seu favor.

Temos então um Governo a navegar á vista do seu líder, mas todo ele cheio de contradições e de medidas fortemente antipopulares, sem resultados, ainda que a prazo. Todos os estudos económicos feitos por entidades independentes apontam num lento mas inexorável afastamento dos nossos padrões de vida relativamente á restante Europa. Mas estes dados em pouco afectam a imagem que temos do nosso PM.

Sendo assim a Igreja portuguesa não faz diferentemente do resto do mundo e assume a sua capacidade de mobilização. 400.000 pessoas é obra, nunca Fátima tinha visto tal multidão. Não creio que seja uma súbita Fé militante, acredito mais que seja a demonstração cabal de quem sabe o que faz. Juntar a descrença na classe política dirigente e dar uma direcção e recado, estamos aqui. Contra a opinião da classe intelectual, normalmente tida como de esquerda, e com o apoio do “povo”.

09 maio 2006

Ter ou não Ter ?

Afinal o governo está coeso ou não?

O ministro da Segurança Social manda-nos procriar para manter a sustentabilidade do sistema, o Ministro da Saúde manda encerrar maternidades.

Em que ficamos ? Ou só se podem ter filhos em certas zonas do país ?

Ou podemos ter filhos desde que os partos sejam no estrangeiro?

Eu como gosto de viajar proponho que os partos sejam todos na Suécia, assim como assim será a única forma que terei de lá ir. Por outro lado pode ser que os meus filhos fiquem com passaporte Sueco o que pode dar desconto no IKEA.

Quanto ao número de filhos ser um factor de poupança fiscal parece-me mais uma vez uma medida de esmagamento da classe média. Quem é que no seu orçamento familiar consegue comportar mais que dois filhos sem ter de fazer um verdadeiro malabarismo orçamental ? Como diz um amigo meu, “o terceiro filho é um sinal exterior de riqueza”.

Mais uma vez esta medida, na sequência dos PPRs e PPHs vem beneficiar os mesmos, quem tem capacidade financeira, e conhecimentos, para o fazer. No estado em que as coisas estão não será a classe média cada vez menos média.

07 maio 2006

Ser Português

È ser um trabalhador incansável, pontual, obediente, cioso do seu dever, orgulhoso, com um relacionamento inter-pessoal de fácil trato e de uma produtividade elevada. Em alguns casos, quando exigido, somos cultos, bem dispostos, inovadores, elegantes, e mesmo corajosos.

Como líderes somos um exemplo a seguir, decididos, com capacidade de liderança, capazes de assumir riscos, disciplinados e disciplinadores, algumas vezes mecenas e com visão de futuro.

Como estudantes ou intelectuais somos abnegados, desejosos de adquirir conhecimentos, com gosto pelas várias áreas da cultura e actividades relacionadas, com um sucesso reconhecido.

Como exemplos dos casos acima referidos temos os casos do Cristiano Ronaldo, de Deco, de José Mourinho, de António Damásio, de Joe Berardo, Paula Rego, Durão Barroso, José Saramago e muitos outros pelo que seria exaustivo estar aqui a relembrar todos. Todos eles têm um traço em comum, trabalham e vivem no estrangeiro.

Os Portugueses que optam por morar em Portugal são uma desgraça. È esta a opinião de uma certa elite intelectual que se esforça para, em sucessivos artigos de opinião, nos lembrar os tristes que nós somos. Alguns destes opinion makers são mais consistentes e suportam esta opinião com gráficos de produtividade e rácios económicos, outros mais emocionais fazem-no com o recurso a ironias e exemplos mais ou menos relevantes, outros mais intelectuais usam dados estatísticos como a quantidade de obras produzidas em Portugal, sejam elas livros ou espectáculos artísticos.

O que eu acho mais curioso é a perspectiva que assumem quando geram este tipo de opiniões. Parece que “eles” estão lá, no seu pedestal e “nós” estamos aqui, no lodo da nossa existência. “Eles” querem fazer este país andar para a frente, o “nós” é que é uma maçada, somos definitivamente um empecilho para todos. Quando se fazem leis está-se sempre com “ um olho no burro e outro no cigano” porque somos uma cambada de “espertos” que só queremos “fugir” aos impostos e viver á larga cheios de Ferraris na garagem e andar de Clios para não revelar a fortuna.
A classe média é que é a culpada deste estado de coisas, tanto quiseram ter reformas á “larga”, salários para sustentar a família e casas para habitar que agora não vamos ter reformas, as empresas vão á falência por falta de competitividade e os bancos estão cheios de “rendas” por receber dos empréstimos concedidos.

È engraçado como esses pretensos opinion makers se debruçam sobre assuntos verdadeiramente ridículos, veja-se o caso de MEC esta semana na Única, têm sempre uma opinião simpática aqui para os “otários” que somos os “nós”. “Eles” até sabem como é, mas é uma maçada descer ao “povo” e arregaçar as mangas, é muito mais engraçado gozar o prato á volta de uns copos no Lux.

Aqui em Portugal só há uma maneira de ter uma opinião unânime sobre os nossos Portugueses, é quando eles estão mortos. Quando morremos passamos todos de vilão a herói. As invejas desaparecem, os defeitos também, até as opiniões, veja-se o caso do “sucesso” que foi o funeral de Álvaro Cunhal ou mais recentemente de Francisco Adam.

Concluo portanto que temos uma elite muitíssimo inteligente que está uns degraus acima de Portugal e que só vive aqui para poder desfrutar do circo nacional e que quando existem Portugueses de valor o melhor é exporta-los ou então que morram antes que seja tarde.
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