27 julho 2006

Geografia e Cultura Urbana - divagações


Hoje ouvi uma conversa interessante sobre o transporte público versus transporte privado. Curiosamente, ou talvez não, existe uma maioria de pessoas que defende a utilização do transporte público. Defende mas não pratica.

Começo então a divagar enquanto vou escutando os vários argumentos pró e contra. Existe sempre uma desculpa recorrente para esta pràtica, a distância a e falta de alternativas. Temos então um ovo de Colombo, por um lado a percepção das vantagens do transporte público por outro lado a prática do uso do transporte privado. Todos nos lembramos como nos transportávamos hà vinte anos. O bom do metropolitano e a sua linha minuscula e os velhinhos autocarros verdes de dois andares. O metropolitano aumentou a sua extensão, o conforto nos autocarros melhorou substancialmente. O que mudou?

Na minha opinião dois factores. Por um lado o crescimento das cidades que fazem com que hoje em dia povoações antes periféricas sejam actualmente autênticos "bairros" da capital e por outro um boom económico que facilitou a compra de automovel próprio. A especulação imobiliária e a melhoria dos salários bem como o recurso ao crédito, tanto para a aquisição de automóvel como de habitação própria, alteraram a geografia e os hábitos das populações.

Perdeu-se o centro histórico das cidades com uma vida cultural e identidades próprios para uma dispersão descaracterizada de "dormitórios" sem as características e qualidade de vida que uma cidade deve prestar.
Não foi uma migração lenta nem em busca de melhores condições de vida muita embora se ouça frequentemente comentar que se optou por morar em cidades satélites em virtude da "calma" que estas proporcionam. Dizem que os centros das cidades são caóticas e muito populosas. È minha opinião que a desarticulação de políticas de desenvolvimento do interior tornaram as cidades o "el dorado" das esperanças. Houve a troca da sobrevivência pela qualidade. A súbita expansão destas periferias ajudada pela melhoria das vias de comunicação, que torna possível a construção em locais cada vez mais afastados dos centros, tornam as mesmas um aglomerado de prédios sem infra-estruturas que fizeram das cidades um pólo de atracção.

As novas cidades não têm estruturas de índole cultural, pois não foram fruto de um amadurecimento gradual, nem as populações residentes têm essas expectativas. As cidades originais envelhecem, os hábitos culturais perdem-se, as identidades ficam difusas e degrada-se a qualidade de vida em ambas as cidades, as "velhas" e as "novas".

Sempre me foi dito que a geografia foi desenvolvida para fazer a guerra, mas na realidade é de tal maneira abrangente que condiciona o todo o nosso modo de vida.
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