10 abril 2009

Assumir riscos

Quando se é jovem o amor é límpido, transparente, sem outro significado que não seja a fruição. As relações, namoros no meu tempo, assumiam-se de uma forma natural. Eram a consequência de uma vontade em estar mais tempo com a pessoa desejada. As coisas nem sempre se assumiam perante os pais, nem mesmo perante todos os amigos. Havia algo de "proibido" de transgressor. por isso mesmo muito intenso. Não seriam os tempos, seria a idade.

Hoje em dia assumir alguma coisa é muito mais complicado, temos montes de egoísmos acumulados a que chamamos "individualidade", "autonomia", "independência". Dividimos o tempo entre o emprego, sempre "super importante" e absorvente, e a nossa " independência ". O que resta nem sabemos muito bem o que é. A " independência " é uma autêntica "dependência". De compromissos familiares e sociais.

Nestes últimos estão os montes de amigos "inadiáveis" que queremos perenes até prova em contrário. Que nos ocupam com os seus problemas quando não os conseguem resolver por si, mas que assim que encontram "o tal" desaparecem sem deixar rasto. Os amigos que têm casamentos frustrados e que compensam estas situações com "festas" giríssimas onde se podem reunir com outras pessoas nas mesmas circunstâncias e esquecer a "cama" que não vão ter, ou o orgasmo que desconhecem.

Quando se encontra uma pessoa que nos interesse questionamos, pesamos, ponderamos, se sentimos aquilo que sentimos quando adolescentes. Não! Não é a mesma coisa! Temos casamentos que correram mal, namoros a seguir que não correram melhor, temos filhos, temos uma outra pressão familiar, e temos medo. Muito medo! Então, tudo aquilo que temos, toda a placidez, as amizades, os hábitos, podem ser postos em causa por um desconhecido que encontramos por "acidente"?

Temos que recomeçar tudo de novo? É muito mais simples manter os velhos hábitos, as rotinas, os egoísmos. Perdemos a coragem. De tanto lutar pela independência caímos na dependência da cobardia. Assumir esta ruptura requer provas irrefutáveis de "amores eternos", palpitações adolescentes, que como o próprio nome indica não teremos mais, encontrar a coragem dentro de nós para recomeçar. Continuar a acreditar que viver é assumir que nem tudo pode dar certo, mas é muito mais certo tentar e assumir algo que pode dar errado. Viver é isso mesmo, arriscar, assumir. Quem não o faz castra-se a si próprio.
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