16 março 2009

Baby boomers versão Tuga

Assisto a um fenómeno recente para mim, a "Ditadura" dos filhos.

Portugal dado o seu atavismo cultural sempre teve um profundo respeito pelos chamados "valores". Entre estes valores constava o respeito pelos mais velhos como uma referência. Basicamente os pais "mandavam" e os filhos baixavam a "bola". Era a réplica da situação politica vivida.
Dá-se uma revolução e são postos em causa numerosos valores, entre eles o acima citado. Era a fase do anti-ciclo. Era preciso pôr em causa o processo educativo, reclamar novas práticas e "libertar" as criancinhas da prática opressara e milenar do jugo parental.
De repente todos os pais "descobrem" o Dr. Spock (não estou a falar do Startreck) e as suas teorias educativas. Os filhos passam a ser encarados como um "projecto" educativo. Os pais são somente o veículo de transmissão do que quer que seja. Ao fim ao cabo não era mais do que a réplica doméstica da politica dominante. Era "proibido proibir". Sim, já sei que esta frase é de Maio de 68 e estamos em plena década de 80/90. Não esqueçamos que estamos a falar de Portugal.
Esta geração contrariando toda a sua "ascendencia" cria então os seus filhos sob a índole da Democracia. Isto significa que qualquer filho teria a possibilidade de expressar os seus "direitos" e as suas "exigências". Repare-se que as "obrigações" foi uma parte esquecida da equação, até porque "obrigar" alguém seria "reaccionario". Criam-se os filhos da Democracia, e, simultaneamente criam-se os filhos da Ditadura, da ditadura filial.
Não se deve "traumatizar" os filhos e como tal devemos condicionar todo o nosso comportamento em função do sucesso e do bem estar filial. Restringimos a nossa vida em funçaõ deles. As televisões "vivem" nos canais Panda e Disney. As nossas casas são "invadidas" pelos seus amigos. Entre os casais divorciados vive-se um fenómeno ainda mais curioso, os pais deixam de usar a casa como sua para não "colidir" com o espaço dos filhos.
As mães mais abnegadas não podem ter "namorados" a não ser que previamente aprovados e validados pelos filhos. Claro está que os namorados só devem frequentar a casa da dita mãe se a relação for suficientemente "sólida" e que a sua durabilidade seja inquestionável. Quanto aos filhos, e uma vez que estão em processo de "formação", levam quem querem para casa. Caso as namoradas mudem todas as semanas devemos encarar esse fenómeno como um "percurso" educativo/formativo. Caso sejam as mães/pais a fazer o mesmo estas são encaradas como umas dissolutas sem eira nem beira que não sabem o que querem com sérios riscos de traumatizar definitivamente as "crianças".
Basicamente os pais inverteram os papéis, passaram a viver em função dos filhos. Os pais deixam de ter o seu espaço, passam a ter aquele que a sua visão de "educação" lhes permite. A casa tornou-se uma gaiola dourada, não se recebe para não se "invadir" o espaço filial, não se sai porque os filhos precisam da companhia parental.
Sou filho de pais divorciados e nunca fiquei traumatizado com as relações dos meus pais, pelo contrário, sempre foram uma forma de acrescentar mundos ao meu mundo. Mas também não me perguntavam a minha opinião, afinal era a vida deles.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Fui hoje jantar a um restaurante e na mesa ao lado estava um casal com uma criancinha que esteve o tempo todo aos berros, a vociferar, insatisfeito com tudo e com todos, a exigir este mundo e o outro e não pude deixar de pensar que aqueles pais mereciam umas valentes palmadas...

11:20 da tarde  
Blogger Out of Time said...

Um famoso pedagogo foi confrontado com uma questão pertinente de uns pais - " o nosso filho bate-nos, ajude-nos e explique-nos porquê". O pedagogo respondeu uma coisa simples, - "o vosso filho bate-vos porque vocês deixam".

12:02 da manhã  

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