29 março 2009

Discutir

As relações devem viver de pontos de vista convergentes ou divergentes ? Esta dualidade existe e é pertinente ou é irrelevante para a relação ?
Cada vez que ouço falar em relações questiono-me sobre aquilo que as sustenta ou as deteriora. Não existem padrões no entanto concluo uma coisa. As relações não têm que ser pacificas, ou plácidas, para ser profícuas. O que entendo por profícuo numa relação? É aquilo que lhes dá consistencia, é aquilo que mantém as pessoas unidas, que as fazem procurar o outro, que as fazem achar que o tempo é mais intenso quando partilhado com o outro.
Quando se discute de uma forma construtiva, sabendo escutar, é porque nos interessam as opiniões do parceiro/a. O silencio é o fim, implusivo, da relação, porque pressupõe a ausencia de atenção o desinteresse. Porque até para discutir é preciso amor, é preciso gostar do outro.

25 março 2009

Coisas simples..

As necessidades e preocupações são em função da nossa vivência ou da nossa capacidade financeira?
Aqui hà uns anos atrás, 20 para ser mais concreto, fui passar as minhas férias no estrangeiro num campus universitário. O campus seria uma forma de juntar dois em um. Por um lado contribuia-se com o nosso trabalho para a construção de um parque infantil e por outro era a forma de conhecermos o país e pessoas,tal como eu, de outros países. Isto passou-se num ex-país do Leste Europeu.
As pessoas tinham as mais diferentes origens e motivações para ali estar. Maioritariamente eram de países de Leste também, no entanto havia uma componente de pessoas oriundas do Ocidente. A maior motivação para os "Ocidentais" era obviamente ver o que se passava para lá do "Muro". Era uma espécie de voyerismo sociológico. Havia os defensores e os detractores do regime.
Depois de identificadas as diferentes origens de cada um de nós começámos a apontar em que isso se reflectia no nossos comportamentos e hábitos. A grande diferença que se notou rápidamente foi o tipo de preocupação e aspirações que tínhamos. Enquanto os "Ocidentais" se preocupavam com as Liberdades de expressão ou credo religioso, preocupações essencialmente de natureza ideologica ou moral/éticas, os de "Leste" tinham preocupações muito mais comezinhas. Preocupavam-se com questões de natureza material, paradoxalmente. Para diferentes preocupações diferentes soluções. Os "Ocidendais" encontravam respostas em "terapias" alternativas. Procuravam as respostas em livros de Filosofia, de História, de Religiôes. Os "de Leste" tinham duas grandes soluções. Enquadrar-se o melhor possivel dentro do Regime, isto significava acomodar-se dentro do Partido, ou, em alternativa, "dar o salto" para o Ocidente. Nem uma solução nem outra tinham grandes preocupações metafísicas, basicamente era "desenrascarem-se" dentro das opções possíveis.
Fazendo uma analogia com o presente constato que actualmente subsiste o mesmo problema noutra escala.
É a diferença entre as pessoas que têm capacidade financeira e as outras. As pessoas que "podem" tentam encontrar a "felicidade" em soluções cada vez mais elaboradas e "alternativas". Religiões exóticas, alimentação "natural", actividades ZEN, cultura erudita e exclusiva, ginásios sofisticados. As pessoas que "não têm como" preocupam-se em esticar o salário até ao final do mês e encontrar a felicidade num qualquer encontro de amigos que meta umas cervejas, umas bifanas e uma música dançavel.
Na realidade o objectivo é o mesmo, a forma de lá chegar é que é extremamente mais complicada num caso que noutro. Complicada e dispendiosa.
Mas será que nos esquecemos como as melhores coisas da vida são as mais simples? Ter as pessoas certas ao nosso lado e fazer por ter tempos para disfrutar da sua companhia, fazer pequenos gestos de solidariedade, apanhar sol á beira rio, ler um livro, ter tempo para passear "perdido"...

16 março 2009

Baby boomers versão Tuga

Assisto a um fenómeno recente para mim, a "Ditadura" dos filhos.

Portugal dado o seu atavismo cultural sempre teve um profundo respeito pelos chamados "valores". Entre estes valores constava o respeito pelos mais velhos como uma referência. Basicamente os pais "mandavam" e os filhos baixavam a "bola". Era a réplica da situação politica vivida.
Dá-se uma revolução e são postos em causa numerosos valores, entre eles o acima citado. Era a fase do anti-ciclo. Era preciso pôr em causa o processo educativo, reclamar novas práticas e "libertar" as criancinhas da prática opressara e milenar do jugo parental.
De repente todos os pais "descobrem" o Dr. Spock (não estou a falar do Startreck) e as suas teorias educativas. Os filhos passam a ser encarados como um "projecto" educativo. Os pais são somente o veículo de transmissão do que quer que seja. Ao fim ao cabo não era mais do que a réplica doméstica da politica dominante. Era "proibido proibir". Sim, já sei que esta frase é de Maio de 68 e estamos em plena década de 80/90. Não esqueçamos que estamos a falar de Portugal.
Esta geração contrariando toda a sua "ascendencia" cria então os seus filhos sob a índole da Democracia. Isto significa que qualquer filho teria a possibilidade de expressar os seus "direitos" e as suas "exigências". Repare-se que as "obrigações" foi uma parte esquecida da equação, até porque "obrigar" alguém seria "reaccionario". Criam-se os filhos da Democracia, e, simultaneamente criam-se os filhos da Ditadura, da ditadura filial.
Não se deve "traumatizar" os filhos e como tal devemos condicionar todo o nosso comportamento em função do sucesso e do bem estar filial. Restringimos a nossa vida em funçaõ deles. As televisões "vivem" nos canais Panda e Disney. As nossas casas são "invadidas" pelos seus amigos. Entre os casais divorciados vive-se um fenómeno ainda mais curioso, os pais deixam de usar a casa como sua para não "colidir" com o espaço dos filhos.
As mães mais abnegadas não podem ter "namorados" a não ser que previamente aprovados e validados pelos filhos. Claro está que os namorados só devem frequentar a casa da dita mãe se a relação for suficientemente "sólida" e que a sua durabilidade seja inquestionável. Quanto aos filhos, e uma vez que estão em processo de "formação", levam quem querem para casa. Caso as namoradas mudem todas as semanas devemos encarar esse fenómeno como um "percurso" educativo/formativo. Caso sejam as mães/pais a fazer o mesmo estas são encaradas como umas dissolutas sem eira nem beira que não sabem o que querem com sérios riscos de traumatizar definitivamente as "crianças".
Basicamente os pais inverteram os papéis, passaram a viver em função dos filhos. Os pais deixam de ter o seu espaço, passam a ter aquele que a sua visão de "educação" lhes permite. A casa tornou-se uma gaiola dourada, não se recebe para não se "invadir" o espaço filial, não se sai porque os filhos precisam da companhia parental.
Sou filho de pais divorciados e nunca fiquei traumatizado com as relações dos meus pais, pelo contrário, sempre foram uma forma de acrescentar mundos ao meu mundo. Mas também não me perguntavam a minha opinião, afinal era a vida deles.

15 março 2009

Afinidades

Tenho algumas dúvidas que me perseguem.

São as afinidades que sustentam uma relação ou as relações geram afinidades ?

As relações precisam de ter um projecto ou são um projecto em si mesmo ?

Os projectos devem ser um objectivo da relação ou são o fim da relação ?

As relações precisam de ter os intervenientes no mesmo plano emocional ou este pode ser diverso e mesmo assim ser interessante ?

O que torna uma relação interessante ?

O que torna uma relação uma relação ?

08 março 2009

Opaco

Nunca tive a intenção de tornar este espaço num documento confessional. Gosto de ir derivando ao sabor da vontade de escrever, que ultimamente voltou de novo.

"Acusam-me" de ser opaco, de não me revelar, de não mostrar aquilo que sou. Nunca foi essa a intenção, prefiro divertir-me a comentar pequenos nadas.

Podia tentar fazer critica de cinema, ou de musica, ou qualquer outra coisa, mas não me sinto competente o suficiente.

Tenho a minha opinião e gosto de a discutir com aqueles que prezo, são cada vez menos. Tenho uma opinião que ouço com particular atenção, porque divergimos, porque temos a capacidade de discordar e de escutar.

Há quem diga que temos afinidades, eu acho que temos algo mais profundo e intenso, temos a capacidade de escutar e a vontade de saber o que o outro pensa, de ser genuíno mantendo o respeito pela diferença. Não sei que nome devemos dar a isto, mas não consigo passar esta oportunidade sem o referir.

Não precisamos de ser transparentes e no entanto temos essa necessidade, porque é a forma que encontramos de estar próximos.

A opacidade tem o reverso, a transparência, e muitas vezes é a mesma face da moeda.
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