30 outubro 2006

O poder e o dinheiro

Todos sabemos como dinheiro e poder se cruzam. Todos sabemos como o dinheiro "compra" o poder. Todos esperamos que o Governo tenha a coragem para tomar decisões difíceis que incluam os poderosos, leia-se ricos, e os menos abonados. Afinal este governo tem uma base ideológica, ainda que ténue e cada vez mais distante, que proclama a igualdade de tratamento e de oportunidades. A grande diferença é que os poderosos usam os meios que têm ao seu alcance para pressionar a opinião dos governantes e perverter o uso das suas capacidades.
È com um enorme desagrado que ouço o Dr. João Salgueiro, presidente da Associação Nacional de Bancos, um organismo corporativo de defesa dos interesses dos banqueiros, afirmar que caso o governo tenha a pretensão de tocar nos impostos sobre os lucros destes o consumidor é que vai pagar.
Se isto não é uma ameaça velada não sei como chamar-lhe. Na verdade o que este senhor está a dizer é que caso os impostos incidam sobre os lucros como em todos os demais negócios deste país, os bancos, que têm lucros crescentes nos últimos anos, vão repercurtir no consumidor este efeito.
Este senhor está a dizer que aumentarão as comissões bancárias cobradas, os serviços bancários cobrados, os juros das aplicações será reduzido, o crédito mais dificil, a economia sofrerá toda ela uma ainda maior desacelaração. Isto mais que uma ameaça é uma clara chantagem sobre um Governo de um estado soberano. Na sequência deste raciocinio pode tambem lêr-se a fuga dos Bancos para países com menor carga fiscal e portanto mais desemprego e maiores dificuldades para qualquer governo recuperar a nossa frágil economia.
Se isto não é um processo de cartelização da economia não sei que nome dar-lhe mas se o Governo tem coragem para reduzir pensões de reformados, aumentar taxas moderadoras, impôr portagens em SCUTs, terá que ter a coragem e encontrar os meios de penalizar quem faz uma chantagem tão ignóbil quanto egoísta.
Com estes banqueiros de "sucesso" fácil, o IRC que incide sobre a banca é reduzido fruto dos desmandes do pós 25 de Abril e potencial fuga de capitais para o estrangeiro, não será de espantar que tenham uma postura de pistoleiros, usam as armas que o liberalismo por eles defendido lhes dá. Que o governo tenha a coragem suficiente para atingir todos de uma forma igualitária é o que espero.

23 outubro 2006

Fins de Semana

Os fins de semana são os dias mais desejados por qualquer cidadão normal imediatamente a seguir ás férias. Digo cidadão normal porque estou a excluir todos aqueles que dizem que trabalham dez e mais horas diárias cheios de orgulho, excluo também os que dizem o mesmo mas fazem os horários que bem lhes apetece.
O problema dos fins de semana é que tentamos converter todos os desejos acumulados de cinco dias de trabalho em dois dias de ócio. Temos portanto os desejos e as "necessidades", neste caso estou a referir-me ás banais compras de supermercado para alimentar a prole com algo mais que Kinders Surpresa e batatas fritas de pacote. Restam-nos assim um dia e meio de verdadeiro ócio que pretende ser o supra sumo do tempo aproveitado.
Neste dia e meio temos de ser polivalentes e levar os filhos ás festas de aniversários dos seus amigos, que estas crianças agora têm uma agenda social mais preenchida que certos socialites. Ver todos os filmes da Disney que esta lança com a respectiva pompa mediática. Encaixar a visita ás exposições do CCB, Culturgest e Gulbenkian, ver o teatro que gostamos e ainda fazer longas caminhadas ao ar livre, o ar puro faz bem.
Ficaram de fora os jantares dos nossos amigos, a leitura dos jornais semanais, o prazer de ficar sem nada que fazer numa explanada e ainda as refeições familiares de caracter semanal. A casa na praia é sub-aproveitada, as "noites" é algo que vamos conhecendo pelos filhos mais velhos dos amigos e já nem consigo saber de cor qual o último livro do Saramago.
Concluo então que os fins de semana são uma de duas coisas, ou muitíssimo curtos ou muítissimo cansativos. O problema é que qualquer uma das hipóteses só se perspectiva depois de eles acabarem o que me deixa a sensação que são sempre um enorme buraco negro.

17 outubro 2006

Ministros e taxas moderadoras

Ando desde há uns dias a digerir uma entrevista que o nosso querido Ministro da Saúde deu quando da apresentação das novas taxas moderadoras.
Comentário do Ministro, "as novas taxas são tão caras quanto um bilhete de cinema ou mesmo um maço de tabaco".
Este tipo de afirmação revolta-me. Parece que todos os portugueses vão regularmente ao cinema, que fazem da cultura parte integrante dos seus gastos mensais, principalmente os idosos e reformados que têm imenso tempo livre.
Já estou a imaginar os cinemas a perderem as filas do costume na bilheteira, os montes de reformados a terem de optar entre os "Sapatos de Cetim" do Manoel de Oliveira ou a consulta ao reumatologista, que as cruzes não perdoam.
Percebo também que estas taxas têm um efeito preventivo porque "vais ao médico logo não fumas".
È o que se chama dois em um, acabam-se as filas para o cinema e previne-se o tabagismo.
Ter ministros que vieram da provincia dá-nos esta capacidade governativa, somos geridos como pacóvios.
PS: o Ministro da Cultura vai enviar uma reclamação por escrito ao Primeiro a pedir explicações sobre o decréscimo de espectadores no cinema, "que desincentiva a produção Nacional e tal e coisa".

16 outubro 2006

Porquê escrever?

Aterrei nestas coisas dos blogues por acaso, como na maior parte das coisas a sorte é um factor importante. Comecei por ler aleatoriamente os blogues com nomes mais curiosos, passei para a fase dos blogues de referencia, andei a passear pelos confessionais, pelos eróticos, dei uma passagem pelos romanceados, fiquei com uma ideia dos vários estilos. Constatei uma hierarquia mais ou menos assumida entre os vários tipos, sendo que uma vez que o suporte é o escrito os literários, fotográficos e politicos são decididamente os mais procurados.

Depois de alguns meses a ler-vos, todos os dias fico impressionado com a enorme vontade e prazer em escrever, ainda que recados, datas de aniversários e outros pequenos assuntos que tanta gente tem.

Confesso que muitas vezes me sinto subjugado por esta enorme capacidade creativa, nestes momentos olho para a minha vida e penso, que tenho de diferente que possa ficar registado?
Gosto de cinema, leio um pouco de tudo, aprecio música, tenho prazer em ver arte. Mas em tudo isto sou um amador, não tenho pretensões a crítico, não tenho saber para tal. Porquê escrever? Porquê ler-me? Este intervalo foi um pouco o resultado desta reflexão.
Concluí que esta coisa de manter periodicidade é como o abraço, é bom até ao momento em que nos podem estrangular.
Tenho alguma irritações, alguns ódios de estimação, algumas paixões sem explicação, mas tranformar tudo isto em qualquer coisa de legível é um desafio que vou encarar de uma forma diferente.
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