Objectos de culto
Motivado pelos imensos textos que tenho visto nos mais diversos blogs e respectivos comentários, comecei a pensar no divertido que são os modernos objectos de culto em Portugal.
Pegando na famosa frase “Nunca empresto a mulher nem o carro” devemos acrescentar agora o telemóvel.
Como é obvio a mulher não se empresta, só se pode emprestar algo do qual somos proprietários, ora a mulher não é um bem, é uma companheira, uma cúmplice.
Quanto ao carro, sempre achei piada a esta relação sentimental que os portugueses tanto prezam. Em alguns caso, revela-se mais atenta e carinhosa do que com a respectiva mulher. A única justificação plausível que encontro para este apego é o seu custo mas acho que vai muito mais além disso. Em certos casos nem este é desculpa, pois são carros de empresa que os respectivos utilizadores não se importam de “esticar” ao limite e de revelar alto e bom som que não ligam nenhuma para o dito.
Finalmente, temos o último dos fetiches modernos, mais democrático pelo seu custo e pela sua igual utilização por ambos os sexos, o telemóvel. Não lembra a ninguém emprestar, ainda que ao seu melhor amigo, o telemóvel por uma semana, mesmo que seja para ele falar com a avozinha, que está em fase terminal no IPO.
O telemóvel tem um efeito catártico, é o melhor e mais confidente amigo de muitos Portugueses, inseparável nos bons e maus momentos, promove e acaba paixões, amores, enganos e desenganos, mas caramba...não se empresta !!!!!!!!
Após verificar a importância de ambos no contexto actual, começo a tentar dissecar o motivo de tais paixões. Ok, esqueço propositadamente as mulheres, porque dessas paixões não há razão que as sustente.
Os carros, no princípio era a mobilidade, o motivo da sua utilização. Pediam-se aos seus projectistas, modelos para o transporte, dois adultos e uma saca de batatas (Citroen 2 Cavalos), quatro adultos numa vida citadina (Morris Mini), para a família com um custo baixo (VW Carocha) , barato, muito barato (Ford T). Foram estes os conceitos que transformaram os carros naquilo que eles são hoje. Sempre houve os modelos de luxo, mas não foram estes que popularizaram a sua utilização.
De repente e após o 25 de Abril, Portugal apercebe-se que era uma população pouco “motorizada” e que isto era um dos sintomas da sua pobreza. A população começa a fazer do carro a sua segunda compra mais importante, a seguir à habitação. O carro começa a ser mais que um meio de transporte, passa a ser um símbolo do seu recente poder de compra.
Começam a surgir as caricaturas do tipo que compra o dito para o ter parado à porta e vai de transportes para o emprego, que passa o fim de semana a lavá-lo, que se esmera na sua decoração com uns almofadões de crochet por dentro e uns auto-colantes da Penelope por fora. Num registo mais actual, a decoração envolve um tunning que deve passar por umas jantes especiais uns ailerons desportivos e fundamental, uma aparelhagem de som que ensurdeça qualquer vizinho até ao terceiro andar. Finalmente temos as pessoas que necessitam de um pequeno utilitário para ir ao supermercado, mas compram um Jeep porque está na moda e até compram casas em função do número e tamanho dos lugares de estacionamento.
Temos agora o telemóvel, é um objecto discreto, não envolve qualquer símbolo de ostentação aparente, mas tem o condão de ser viciante. Pior que uma droga, é um vício socialmente aceite. No princípio, começou por ser associado a poder de compra, era chique e caro, depois passou a ser um atributo de quem queria parecer um profissional de sucesso que necessitava de estar constantemente contactável e agora todos os motivos são válidos. Temos os verdadeiros viciados em telemóveis, desde aqueles que trocam sistemáticamente de modelo, só para poderem ter o último modelo, ainda que mais de metade das suas funcionalidades lhes sejam completamente desconhecidas e desaproveitadas, até aqueles que dependem da sua companhia para se sentirem seguros e confortáveis. Neste vício, só é visível o ridículo pelo toque, que deve ser modernaço, uma música de qualquer top, e o ar inseguro e nervoso quando alguém confessa que está sem bateria ou se esqueceu do TMN em casa mas ainda tem o Vodafone e o Optimus na carteira.
Em ambos os casos, são raciocínios muito semelhantes aos fanáticos dos automóveis, as taras são muito parecidas e divertidas. Imaginem estas pessoas a viverem na década de sessenta (ainda tenho fotos da Avenida da Igreja em Lisboa sem um único carro).
Depois de pensar um bocado, concluímos que ambos os objectos são úteis, caso contrário não os teriam inventado, mas que devemos usa-los com a respectiva clarividência. Os automóveis aproximam as pessoas, reduzem distâncias, promovem o convívio, servem de sala de estar em dias de chuva...podem ter outras utilidades conforme a divisão da casa que estejam a pensar, mas será que passam disso?
Os telemóveis deveriam aproximar as pessoas, mas agora, em vez de se fazerem visitas, fazem-se telefonemas ou pior, mandam-se SMS. Os namorados nunca se atrasam nem há desencontros de esquinas, mas será que amamos mais as pessoas por isso? Deveriam poupar trabalho e promover a educação, agora recebem-se chamadas a qualquer hora e em qualquer sitio (lembro-me de estar no WC do Galeto e estar um sujeito a falar tranquilamente do toillete) não se valoriza nem respeita quem está do outro lado da linha. As pessoas declaram paixões e terminam relações por SMS, onde anda a cabeça das pessoas?
Eu, apesar de tudo, não deixo de usar qualquer um deles, mas prefiro que não me peçam livros ou CDs emprestados.
Pegando na famosa frase “Nunca empresto a mulher nem o carro” devemos acrescentar agora o telemóvel.
Como é obvio a mulher não se empresta, só se pode emprestar algo do qual somos proprietários, ora a mulher não é um bem, é uma companheira, uma cúmplice.
Quanto ao carro, sempre achei piada a esta relação sentimental que os portugueses tanto prezam. Em alguns caso, revela-se mais atenta e carinhosa do que com a respectiva mulher. A única justificação plausível que encontro para este apego é o seu custo mas acho que vai muito mais além disso. Em certos casos nem este é desculpa, pois são carros de empresa que os respectivos utilizadores não se importam de “esticar” ao limite e de revelar alto e bom som que não ligam nenhuma para o dito.
Finalmente, temos o último dos fetiches modernos, mais democrático pelo seu custo e pela sua igual utilização por ambos os sexos, o telemóvel. Não lembra a ninguém emprestar, ainda que ao seu melhor amigo, o telemóvel por uma semana, mesmo que seja para ele falar com a avozinha, que está em fase terminal no IPO.
O telemóvel tem um efeito catártico, é o melhor e mais confidente amigo de muitos Portugueses, inseparável nos bons e maus momentos, promove e acaba paixões, amores, enganos e desenganos, mas caramba...não se empresta !!!!!!!!
Após verificar a importância de ambos no contexto actual, começo a tentar dissecar o motivo de tais paixões. Ok, esqueço propositadamente as mulheres, porque dessas paixões não há razão que as sustente.
Os carros, no princípio era a mobilidade, o motivo da sua utilização. Pediam-se aos seus projectistas, modelos para o transporte, dois adultos e uma saca de batatas (Citroen 2 Cavalos), quatro adultos numa vida citadina (Morris Mini), para a família com um custo baixo (VW Carocha) , barato, muito barato (Ford T). Foram estes os conceitos que transformaram os carros naquilo que eles são hoje. Sempre houve os modelos de luxo, mas não foram estes que popularizaram a sua utilização.
De repente e após o 25 de Abril, Portugal apercebe-se que era uma população pouco “motorizada” e que isto era um dos sintomas da sua pobreza. A população começa a fazer do carro a sua segunda compra mais importante, a seguir à habitação. O carro começa a ser mais que um meio de transporte, passa a ser um símbolo do seu recente poder de compra.
Começam a surgir as caricaturas do tipo que compra o dito para o ter parado à porta e vai de transportes para o emprego, que passa o fim de semana a lavá-lo, que se esmera na sua decoração com uns almofadões de crochet por dentro e uns auto-colantes da Penelope por fora. Num registo mais actual, a decoração envolve um tunning que deve passar por umas jantes especiais uns ailerons desportivos e fundamental, uma aparelhagem de som que ensurdeça qualquer vizinho até ao terceiro andar. Finalmente temos as pessoas que necessitam de um pequeno utilitário para ir ao supermercado, mas compram um Jeep porque está na moda e até compram casas em função do número e tamanho dos lugares de estacionamento.
Temos agora o telemóvel, é um objecto discreto, não envolve qualquer símbolo de ostentação aparente, mas tem o condão de ser viciante. Pior que uma droga, é um vício socialmente aceite. No princípio, começou por ser associado a poder de compra, era chique e caro, depois passou a ser um atributo de quem queria parecer um profissional de sucesso que necessitava de estar constantemente contactável e agora todos os motivos são válidos. Temos os verdadeiros viciados em telemóveis, desde aqueles que trocam sistemáticamente de modelo, só para poderem ter o último modelo, ainda que mais de metade das suas funcionalidades lhes sejam completamente desconhecidas e desaproveitadas, até aqueles que dependem da sua companhia para se sentirem seguros e confortáveis. Neste vício, só é visível o ridículo pelo toque, que deve ser modernaço, uma música de qualquer top, e o ar inseguro e nervoso quando alguém confessa que está sem bateria ou se esqueceu do TMN em casa mas ainda tem o Vodafone e o Optimus na carteira.
Em ambos os casos, são raciocínios muito semelhantes aos fanáticos dos automóveis, as taras são muito parecidas e divertidas. Imaginem estas pessoas a viverem na década de sessenta (ainda tenho fotos da Avenida da Igreja em Lisboa sem um único carro).
Depois de pensar um bocado, concluímos que ambos os objectos são úteis, caso contrário não os teriam inventado, mas que devemos usa-los com a respectiva clarividência. Os automóveis aproximam as pessoas, reduzem distâncias, promovem o convívio, servem de sala de estar em dias de chuva...podem ter outras utilidades conforme a divisão da casa que estejam a pensar, mas será que passam disso?
Os telemóveis deveriam aproximar as pessoas, mas agora, em vez de se fazerem visitas, fazem-se telefonemas ou pior, mandam-se SMS. Os namorados nunca se atrasam nem há desencontros de esquinas, mas será que amamos mais as pessoas por isso? Deveriam poupar trabalho e promover a educação, agora recebem-se chamadas a qualquer hora e em qualquer sitio (lembro-me de estar no WC do Galeto e estar um sujeito a falar tranquilamente do toillete) não se valoriza nem respeita quem está do outro lado da linha. As pessoas declaram paixões e terminam relações por SMS, onde anda a cabeça das pessoas?
Eu, apesar de tudo, não deixo de usar qualquer um deles, mas prefiro que não me peçam livros ou CDs emprestados.