24 março 2006

Objectos de culto

Motivado pelos imensos textos que tenho visto nos mais diversos blogs e respectivos comentários, comecei a pensar no divertido que são os modernos objectos de culto em Portugal.

Pegando na famosa frase “Nunca empresto a mulher nem o carro” devemos acrescentar agora o telemóvel.

Como é obvio a mulher não se empresta, só se pode emprestar algo do qual somos proprietários, ora a mulher não é um bem, é uma companheira, uma cúmplice.

Quanto ao carro, sempre achei piada a esta relação sentimental que os portugueses tanto prezam. Em alguns caso, revela-se mais atenta e carinhosa do que com a respectiva mulher. A única justificação plausível que encontro para este apego é o seu custo mas acho que vai muito mais além disso. Em certos casos nem este é desculpa, pois são carros de empresa que os respectivos utilizadores não se importam de “esticar” ao limite e de revelar alto e bom som que não ligam nenhuma para o dito.

Finalmente, temos o último dos fetiches modernos, mais democrático pelo seu custo e pela sua igual utilização por ambos os sexos, o telemóvel. Não lembra a ninguém emprestar, ainda que ao seu melhor amigo, o telemóvel por uma semana, mesmo que seja para ele falar com a avozinha, que está em fase terminal no IPO.
O telemóvel tem um efeito catártico, é o melhor e mais confidente amigo de muitos Portugueses, inseparável nos bons e maus momentos, promove e acaba paixões, amores, enganos e desenganos, mas caramba...não se empresta !!!!!!!!

Após verificar a importância de ambos no contexto actual, começo a tentar dissecar o motivo de tais paixões. Ok, esqueço propositadamente as mulheres, porque dessas paixões não há razão que as sustente.

Os carros, no princípio era a mobilidade, o motivo da sua utilização. Pediam-se aos seus projectistas, modelos para o transporte, dois adultos e uma saca de batatas (Citroen 2 Cavalos), quatro adultos numa vida citadina (Morris Mini), para a família com um custo baixo (VW Carocha) , barato, muito barato (Ford T). Foram estes os conceitos que transformaram os carros naquilo que eles são hoje. Sempre houve os modelos de luxo, mas não foram estes que popularizaram a sua utilização.
De repente e após o 25 de Abril, Portugal apercebe-se que era uma população pouco “motorizada” e que isto era um dos sintomas da sua pobreza. A população começa a fazer do carro a sua segunda compra mais importante, a seguir à habitação. O carro começa a ser mais que um meio de transporte, passa a ser um símbolo do seu recente poder de compra.
Começam a surgir as caricaturas do tipo que compra o dito para o ter parado à porta e vai de transportes para o emprego, que passa o fim de semana a lavá-lo, que se esmera na sua decoração com uns almofadões de crochet por dentro e uns auto-colantes da Penelope por fora. Num registo mais actual, a decoração envolve um tunning que deve passar por umas jantes especiais uns ailerons desportivos e fundamental, uma aparelhagem de som que ensurdeça qualquer vizinho até ao terceiro andar. Finalmente temos as pessoas que necessitam de um pequeno utilitário para ir ao supermercado, mas compram um Jeep porque está na moda e até compram casas em função do número e tamanho dos lugares de estacionamento.

Temos agora o telemóvel, é um objecto discreto, não envolve qualquer símbolo de ostentação aparente, mas tem o condão de ser viciante. Pior que uma droga, é um vício socialmente aceite. No princípio, começou por ser associado a poder de compra, era chique e caro, depois passou a ser um atributo de quem queria parecer um profissional de sucesso que necessitava de estar constantemente contactável e agora todos os motivos são válidos. Temos os verdadeiros viciados em telemóveis, desde aqueles que trocam sistemáticamente de modelo, só para poderem ter o último modelo, ainda que mais de metade das suas funcionalidades lhes sejam completamente desconhecidas e desaproveitadas, até aqueles que dependem da sua companhia para se sentirem seguros e confortáveis. Neste vício, só é visível o ridículo pelo toque, que deve ser modernaço, uma música de qualquer top, e o ar inseguro e nervoso quando alguém confessa que está sem bateria ou se esqueceu do TMN em casa mas ainda tem o Vodafone e o Optimus na carteira.

Em ambos os casos, são raciocínios muito semelhantes aos fanáticos dos automóveis, as taras são muito parecidas e divertidas. Imaginem estas pessoas a viverem na década de sessenta (ainda tenho fotos da Avenida da Igreja em Lisboa sem um único carro).

Depois de pensar um bocado, concluímos que ambos os objectos são úteis, caso contrário não os teriam inventado, mas que devemos usa-los com a respectiva clarividência. Os automóveis aproximam as pessoas, reduzem distâncias, promovem o convívio, servem de sala de estar em dias de chuva...podem ter outras utilidades conforme a divisão da casa que estejam a pensar, mas será que passam disso?
Os telemóveis deveriam aproximar as pessoas, mas agora, em vez de se fazerem visitas, fazem-se telefonemas ou pior, mandam-se SMS. Os namorados nunca se atrasam nem há desencontros de esquinas, mas será que amamos mais as pessoas por isso? Deveriam poupar trabalho e promover a educação, agora recebem-se chamadas a qualquer hora e em qualquer sitio (lembro-me de estar no WC do Galeto e estar um sujeito a falar tranquilamente do toillete) não se valoriza nem respeita quem está do outro lado da linha. As pessoas declaram paixões e terminam relações por SMS, onde anda a cabeça das pessoas?

Eu, apesar de tudo, não deixo de usar qualquer um deles, mas prefiro que não me peçam livros ou CDs emprestados.

19 março 2006

Economês

Estamos a chegar ao raiar da loucura jornalística económica. De tantas OPA’s ainda ficamos todos Opados. Por curiosidade li o “Jornal de Negócios” de 15/3 e vi os seguintes títulos:

BCP dispensa 3.000 trabalhadores do BPI
O negócio ainda não está feito mas o BCP já dispensou trabalhadores. Coitado do Sócrates e o seu objectivo da criação de emprego. Com amigos como o BCP não há Emprego que aguente. No entanto e paradoxalmente todos os analistas insistem em que será positivo para a economia. Parece que a economia destas 3000 famílias não conta.

EDP – Talone despede-se com bónus para todos os trabalhadores
Pensava que a EDP ainda era uma Empresa de Serviço Publico e deveria retornar os lucros em favor dos contribuintes/utilizadores. Afinal é só para os contribuintes/utilizadores que trabalham na EDP. Os aumentos somam e seguem.....estamos a falar dos lucros e dos tarifários. Os lucros da EDP foram fantásticos e aparentemente uma gestão de excelência, não entendo porque correm com o presidente. Será porque parte destes resultados foram conseguidos com a venda de património da empresa? Sendo assim andaram a delapidar património de todos e alguém soube?

Pinho perde API para Sócrates
Mas este Pinho já deve ter descido de divisão de tantos jogos perder. Ele perde o “Choque Tecnológico”, agora perde a API, o MIT passou-lhe ao lado, o Bill dos Portões mal o reconheceu...Ainda não entendi porque o Sócrates não faz como o nosso Presidente e dispensa o respectivo conselheiro (neste caso Ministro)

Câmara de Lisboa compra pavilhão de Portugal
Bem, na realidade, não foi uma compra, foi só uma permuta por uns terrenos que faziam falta ao Parque Expo/Nações que, por sua vez, também é propriedade da CML. Há que dar trabalho aos amigos. É preciso é ter muitas empresas, principalmente virtuais, muitos administradores, muitos carros de serviço e respectivos motoristas. Ò Carmona, tu afinal és amigo do Emprego!!

Questiono se será do jornal, se será da realidade, mas não vi um único artigo onde o consumidor/trabalhador fosse directamente beneficiado. A sorte é que no correio tinha um folheto da Worten com umas promoções fantásticas, não temos para comer, mas temos para comprar telemóveis.

14 março 2006

Portugal, uma justiça a dois tempos

Temos um Ministro da Justiça que decidiu criar o ovo de Colombo da Justiça em Portugal. Este senhor pretende a criação de dois sistemas judiciais a duas velocidades. A primeira será uma Justiça célere e de primeiro mundo a dos “poderosos” ligados á “Inteligência” a segunda será a que temos ou pior e será destinada aos “otários”, leia-se o comum dos Portugueses. Este Ministro deve ter-se baseado na política Chinesa, um país dois sistemas, ou terá lido recentemente o nosso amigo George Orwell no “Triunfo dos Porcos” – todos somos iguais, mas uns mais iguais que os outros.
A outra hipótese, mais elaborada, para a assunção deste dois sistemas poderá ter sido a leitura da revista Seed - divulgação cientifica - deste mês (vejam o Expresso de 4/03). Num artigo de Elizabeth Gould esta neuro-cientista está a revolucionar o conhecimento do cérebro ao demonstrar que o meio envolvente condiciona o desenvolvimento cerebral ao nível fisiológico. As condições de pobreza e de stress podem e afectam a estrutura física do cérebro condicionando a sua inteligência.
Estão a ver a relação ?
O Ministro antecipando a ciência somente nos está a fazer um favor, separar os inteligentes dos menos dotados. Em síntese, o Ministro acha que todos somos iguais , uns mais inteligentes, comprovado pela descoberta acima revelada e outros menos. Para ninguém ficar envergonhado separa-se a justiça pela “Inteligência”.
Foram anos de estudo nas melhores Universidades para chegar a esta depuração cientifica.

09 março 2006

Tranquilidade desassossegada

Não queremos perturbar o vosso sossego, só queremos revelar a nossa opinião. Não queremos ser mais uns na estatística dos desalinhados. Se escrevemos o que sentimos é porque assim diminuímos a febre de sentir. E quando a febre toldar a nossa compreensão e a razão se perder de razões contamos com a nossa emoção para nos ligar ao sonho e que os nossos sonhos vos façam sonhar também. Somos com muito orgulho uns monarco-anarcas, só fazemos aquilo que nos dá na real gana. Não vamos ter conteúdos nem linha de orientação, estaremos atentos e inquietos quietamente. Vamos usar a palavra, mas podemos usar a música, a pintura, a fotografia, o cinema, o teatro ou o silêncio....
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