Liberdades Medievais
Na minha ingenuidade inicial quis acreditar que a web fornecia, finalmente, a plataforma perfeita para uma cidadania completa a quem estivesse interessado. As páginas de textos de opinião (blogs) ou de puro desvario eram simples de conceber e permitiam a interactividade com os leitores através das respectivas caixas de comentários. Havia um meio de comunicar com pessoas de elevado interesse intelectual ou outro sem a intermediação de nenhum filtro.
Com base neste pressuposto, comecei por frequentar os blogs de terceiros e perceber quais os tipos de textos que se publicavam e o tipo de comentários que se viam.
Todos os bloggers contactados começaram por dizer que o faziam pelo puro prazer da escrita, pelo inefável prazer da comunicação sem fronteiras, era o verbo que os unia.
Passados as primeiras opiniões cheias de bondade e de boas intenções vinha a preocupação do número de leitores e o impacto que os textos têm nos mesmos.
Começo então a aperceber-me que todos eles sabem o número de “leitores”, portanto a sua tiragem, bem como o respectivo perfil dos mesmos e mesmo em alguns casos conhecem os leitores pessoalmente. Têm o seu marketing perfeitamente claro e começam a fazer a triagem dos textos que publicam e mais importante que isso, a triagem dos comentários que lhes fazem. Chego então a conclusões curiosas e perfeitamente pessoais, sem qualquer pretensão, estudo ou análise estatística.
Existem os blogs “de opinião”, são sem dúvida os mais variados, pois podem ir desde a opinião política, económica, artística, passando pelos vários fait divers que animam o burgo ou a cena internacional. Serão os mais ecléticos e susceptíveis de gerar controvérsia pois nele se enquadram os jornalistas, políticos e escritores em actividade bem como potenciais ou retirados que ainda têm ou gostariam de ter audiência.
Os blogs confessionais são muito variados e podem ir desde os textos amorosos bem como as neuras ou alegrias do autor no momento. Os seus textos são de qualidade bastante variada e depende muito da empatia que se gera com o autor.
Com base neste pressuposto, comecei por frequentar os blogs de terceiros e perceber quais os tipos de textos que se publicavam e o tipo de comentários que se viam.
Todos os bloggers contactados começaram por dizer que o faziam pelo puro prazer da escrita, pelo inefável prazer da comunicação sem fronteiras, era o verbo que os unia.
Passados as primeiras opiniões cheias de bondade e de boas intenções vinha a preocupação do número de leitores e o impacto que os textos têm nos mesmos.
Começo então a aperceber-me que todos eles sabem o número de “leitores”, portanto a sua tiragem, bem como o respectivo perfil dos mesmos e mesmo em alguns casos conhecem os leitores pessoalmente. Têm o seu marketing perfeitamente claro e começam a fazer a triagem dos textos que publicam e mais importante que isso, a triagem dos comentários que lhes fazem. Chego então a conclusões curiosas e perfeitamente pessoais, sem qualquer pretensão, estudo ou análise estatística.
Existem os blogs “de opinião”, são sem dúvida os mais variados, pois podem ir desde a opinião política, económica, artística, passando pelos vários fait divers que animam o burgo ou a cena internacional. Serão os mais ecléticos e susceptíveis de gerar controvérsia pois nele se enquadram os jornalistas, políticos e escritores em actividade bem como potenciais ou retirados que ainda têm ou gostariam de ter audiência.
Os blogs confessionais são muito variados e podem ir desde os textos amorosos bem como as neuras ou alegrias do autor no momento. Os seus textos são de qualidade bastante variada e depende muito da empatia que se gera com o autor.
Os blogs de cariz erótico são uma “espécie” à parte pelo tipo de textos e de expectativas que se criam. Geralmente o assunto esgota-se rapidamente e são bastante previsíveis mas têm o seu público fiel.
Até aqui não disse nada que não saibam mas é sobre os primeiros que gostava de me debruçar.
Estes são, na realidade, aqueles que geram polémica, amores e desamores e são gerados pelos pretensos opinion makers da blogosfera e foi assim que percebi que também nela existem classes comparáveis à ordem social Medieval.
Temos então a Nobreza, são os bloggers que têm acesso à imprensa e, portanto, uma projecção mediática que faz deles pretensas referencias de opinião. Nesta classe estão políticos, jornalistas e afins. É uma classe que tem privilégios próprios, inibem a caixa de comentários, só recebem mails, fazem questão de só responder àqueles que lhes são convenientes. Consideram todos os demais bloggers anónimos uns párias do sistema e dão-se ao luxo de escrever artigos jornalísticos a insultar quem tem a ousadia de os contrariar. Os anónimos para eles são um incómodo, são um pouco como os líderes clandestinos de antes da revolução, não têm rosto e eventualmente podem dizer verdades incómodas. Por vontade da nobreza estes seres não deviam ter direitos e nunca poderiam fazer comentários. No caso de os fazerem e desde que não concordantes com a opinião dos Nobres deviam vir sempre identificados (Nome, BI, Nº Contribuinte, Morada e Telefone) por forma a saberem quem são os potenciais inimigos e serem tomadas as devidas providencias. A PIDE pensava o mesmo.
A nobreza rodeia-se dos amigos e cria uma corte. Tal como na Nobreza, os apelidos são factores distintivos. Convém usar um nome com pedigree mesmo que o mesmo seja de uma avó ou tia em segundo grau. O trabalho propriamente dito deve ser de índole intelectual e o dinheiro nunca deve ser óbice à sua actividade, afinal eles são Nobres.
Temos o Clero, são bloggers aparentemente sem vinculo opinativo, são seres acima de qualquer suspeita. Claro que só podem chegar a esta classe os membros devidamente aprovados pela Nobreza. Na realidade são seres anódinos que contribuem para o ar aparentemente liberal da sociedade e dão o devido tom local e folclórico ao ambiente. Têm uma enorme vontade de pertencer à nobreza, mas são como os segundos filhos, preservam os tiques dos Morgados e estão sempre à espera que estes morram. Podem até comentar a Nobreza, desde que em aspectos menores e desde que previamente creditados pela mesma. Dada a sua posição aparentemente independente podem criar Indexes de blogs proscritos. Convém a Nobreza ter alguém que faça o trabalho menor por eles. Os critérios desde Index será sempre mais ou menos aleatório desde que cumpra o desiderato de afastar os incómodos da Nobreza.
Aqui a qualidade dos textos ou das opiniões é secundária desde que sejam suficientemente vernáculos e agressivos para afastar qualquer tentativa de golpe de Estado. Este é um patamar cheio de pessoas desejosas de livrar a sua alma do purgatório pelo que vendem a mesma com um objectivo, chegarem a Nobres. O seu trabalho real é uma coisa vaga entre o funcionalismo público, professores incluídos e o consultor de qualquer coisa. Têm acesso a imensa informação, tal como o clero tinha, mas importante mesmo é a sua enorme disponibilidade para “pensar” em teorizar e sustentar a ordem estabelecida. Não interessa serem vistos, convém ser discreto e fazer o trabalho na penumbra.
Finalmente temos a plebe, a estes é suposto inibir qualquer comentário que não seja um Amén a todos as classes acima mencionadas. Devem ter a sua via dolorosa e só alguns, os eleitos, poderão ascender a subir de classe social, por forma a poderem ter a honra e o privilegio de comentar sem serem enxovalhados em público ou nas caixas de comentários das classes acima mencionadas.
Toda esta estrutura social é extremamente rígida e as suas regras, não escritas, impostas pela nobreza, ainda que possam ser pensadas e elaboradas pelo Clero. Convém haver bastante arbitrariedade e falta de rigor nas regras para estas se irem adaptando às circunstâncias desde que em beneficio da mesmas classes.
Tudo isto para concluir que, como todos os meios criados até agora pelo homem, este cria as suas próprias regras de segregação baseadas em equilíbrios de poder que beneficiem os detentores do aparelho produtivo ou do capital, neste caso, o acesso aos meios de informação públicos gerando correntes de opinião sobre factos importantes ou não que modelem e direccionem o pensamento da massa.
Temos então pessoas que ingenuamente entraram neste carrocel e saíram enxovalhadas sem terem sequer o direito ao contraditório e uma série de “padres” a dar o respectivo aval ao enxovalho.
Esta classificação não pretende ser exaustiva e não inclui todos os bloggers, existem uns quantos resistentes na antiga Gália que só temem que o céu lhes caia sobre a cabeça. Por Toutatis!!!!
17 Comments:
Vejo-me como o bardo, amarrada no topo da árvore enquanto a janta é lá em baixo porque até na aldeia gaulesa existem castas:
- O Druida
- O chefe
- Os guerreiros
- Os comerciantes
- Os outros
- O bardo
Castas sempre existirão, até na nossa banda desenhada favorita (e dizia-me o médico enquanto fazia o electro qualquer coisa gama em esforço - sabia que o argumentista do Asteriz morreu a fazer isto? Devia ser sádico).
A civilização que procura não existe em nenhum tipo de animal que povoa este planeta. Há sempre o líder e o seguidor e por vezes, umas ovelhas tresmalhadas, os doidos.
Ontem fiz uma avaliação que deu um resultado curioso (só curioso para mim, de resto parece ser negativo aos olhos dos outros) - atenção desordenada no geral para a particularização num pormenor.
- Mas os pormenores contam-nos as histórias!
Pois, mas só eu as quero ouvir. De resto parece que o geral conta mais.
Tudo o que diz é verdade mas apesar do ditado "o diabo mora nos detalhes" são esses que me trazem o prazer continuar a escrever e a ler os blogs dos outros (como este que tenho reparado que tem estado parado, paradíssimo)
Fragmentos…..
Aqui deixo uns fragmentos, aguardando colaboração para os complementar e completar.
Considero que a tua opinião, a tua vivência é importante, por isso o desafio.
Aceita-o …..
As relações amorosas têm muitas versões,
Caramba!!! Estavas mesmo inspirado e entusiasmado...
Estava a ler e a pensar uauuuu há aqui muitas coisas verdades...verdadinhas...
Algumas coisas que escreveste incomodam-me...
A transformação de um «blog» no «blog», estava a tentar ver onde se encaixava o meu...
Hmmmm Out-of-time welcome to the S_E_L_V_A virtual ehehe beijos (recatados)
Ps no meu caso particular continuo enquanto em divertir...
Ps este post teve alguma coisa a ver com o 25 de Abril??? ;)
Bem... À medida que fui lendo, fui-me enterrando na cadeira... Ainda me sinto culpada pelo que sucedeu relativamente ao vídeo do poema... Mas enfim, acabei por apagar mesmo tudo.
Quanto aos blogs, a mim pouco me interessa o que motiva cada autor a criar o seu. Isto é para a rapaziada se entreter, dizer o que tem a dizer, mostrar o que acha que deve ser visto...
No entanto, nessa sua pareciação da blogosfera, também eu já me havia apercebido dessa hierarquização.
A sua análise, embora, possa parecer correcta do ponto de vista formal, parece-me muito parcial.
Não é verdade que todos os «bloggers» tenham contadores de acessos e se preocupem com o receptor.
A «blogosfera» terá de ser analisada do ponto de vista do emissor, quem emite e porquê.
Concordo que os «blogs» citados são os de pessoas que já eram conhecidas antes da «blogosfera» se exceptuarmos o caso residual da Rititi.
Estive, recentemente, em dois encontros/conferências sobre «blogs» e a «blogosfera» e aquilo que retive dos dois é que está tudo no início... a «blogosfera» será aquilo que nós os «bloggers» da plebe quisermos que ela seja...
ehehehehehehe, simplesmente ....brilhante!
Fica-me esta sensação de um blog feito com emoção e razão, cada uma das quais "colada" no seu autor.Leio, não tenho comentado, mas gosto.
Apenas por curiosidade e sem querer desprestigiar esta postagem, responda-me a esta pergunta: o seu blog encaixa-se em que grupo, ou melhor, em que "ordem social" da blogosfera?
Caros concidadãos,
Peço desculpa pela demora na resposta aos vossos comentários, mas aqui o Gaulês foi uns dias de férias.
Teresa, o bardo é sempre muito importante, não o menospreze.
Princesa, eu sabia que ia entrar numa selva, pensava é que havia menos animais carnívoros. O seu blog enquadra-se onde a sua vontade o quiser.
Anabela, esqueça o post e retenha a mensagem do poema.
Pedro, a minha opinião será sempre parcial, será a minha. Quanto ao facto da blogosfera ser aquilo que quisermos que ela seja depende de nós mas precisa que o "nós" seja suficientemente "aberto" para encaixar a crítica e sejamos suficientemente "educados" para a saber fazer. Basta ver a tempestade que se criou com um "mal estar" de um senhor blogger para verificar as correntes de opinião que se geraram.
Xupa, obrigado pelo incentivo.
Maeve, eu ainda sou ingenuo, ainda não tenho reino, mas prefiro ter que tomar a poção mágica.
Obrigado a todos pelas vossas opiniôes e incentivos.
Para quem me conhece pessoalmente sabe que um "Muito bom" meu, dito baixinho e prolongadamente é dos maiores elogios que eu posso fazer.
MUUUUITO BOM...
E nessa ordem feudal há tambem os Jacques que de vez em quando desiafiam a ordem vigente.
É muito verdadeira alguma da analogia que faz.. ninguém diria que fora do tempo.
Gostei muito do texto, até porque ando a tentar perceber esse fenómeno da blogosfera e o que pode proporcionar aos bloggers e a quem os procura.
É sempre bom conhecer as várias opiniões sobre este mundo fascinante e sobre esse meio poderoso que é a net.
Não me enquadro em nenhum dos grupos, embora saiba deite um olho às estatísticas, pois gosto de saber mais sobre quem me visita, como me encontram e o que procuram. É engraçado que um dos meus textos mais lidos não é de todo o meu preferido, mas enquadra-se nas preocupações dominantes: como arrumar um roupeiro. LOL
Tenho um Mkt pessoal, como tenho em tudo na vida. Encaro a minha pessoa como uma marca e cuido dela. O meu blog é uma extensão do que sou: as imagens criteriosamente escolhidas e uma linha de edição definida. Obviamente, o tom varia com o meu estado de espírito e as ideias vão surgindo daquilo que vejo e leio.
Polémico? Q.b.
Bjs
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